terça-feira, 25 de agosto de 2009

Letters

Um textinho em inglês pra vcs praticarem... hehehe

 

 

Data: 20/05/2009

Tema: if you found this, it's probably too late

Autora: Letícia

Título: Letters

 

           

Dear Abby,

            If you found this, it’s probably too late. I’m at this moment at the airport on my way to a new life that I don’t even know what and where it is. I’m afraid I didn’t have the courage to talk to you in person, to even call you and tell you that.

            I’m partially sorry that this happen this way. But you suffocated me with your ideas, with your rules and cleaning matters. You didn’t give me space to tell you that my dream wasn’t to continue the family store and have a normal, common life. I always wanted more. You should have known that since I always tried to tell you. But you never listened.

            On the other hand, if I had tried to make things work, if I waited for your return I might never do this and we both would be unhappy: You with a guy that always “wanted out” and me always dreaming with a new life.

            I’ll never forget you. I wish I had more kind words to say, but I’m afraid that if I tell you how much I loved you and how much you helped me all this time that we’ve been together it would give you hopes that doesn’t exist.

 

            Love,

            John.

 

When he opened the drawer to get the glue and close the envelope he saw a lot’s of half written and folded papers and one on top of it. He was very curious so he couldn’t help reading it, even though he knew it wasn’t right since it was her place, her drawer.

 

“Dear John,

 

            If you found this, it's probably too late. I tried to write so many times, so many letters, but I can’t find the right words. I feel that it wouldn’t reach you the right way if I told this personally.

            If you found this, it's probably too late. I feel that you are unhappy with me. I always tried to be there for you, to accompany you in all your dreams, but I feel that there’s something missing. Since you won’t tell me and I haven’t got any other way of finding out, with my pouring heart, I tell you that you are now free. Go do whatever is pulling your heart.

            If you found this, it's probably too late. I’ll be gone for a couple of week to try to forget you, to try to set me free from you as much as you are free from me. Please, take your things out of the apartment.

            My only request is that you go follow your dream.

            I’ll never forget you. I wish I had more kind words to say, but I’m afraid that if I tell you how much I loved you and that I would do anything and go anywhere to be with you, that your dream could be my dream, this will only make it harder for you. But, please, know that I will always love you and that I might not even come back at all since you were the only “thing” keeping me here.

 

            Love,

            Abby.”

 

            John felt a shiver through his spine. He froze at the realization that they both loved each other so much that they killed themselves in the relationship. This made them want to leave, run away from all the love.

            He left the apartment and got the cab that he had already called to the airport before reading the letter.

            But he didn’t go to the airport. He went to the grocery store and bought supplies to make a very romantic dinner.

            When he got back he ran to the kitchen and prepared the dinner.

            It was a great surprise to Abby when she arrived and found the candles, the great smell of homemade food. She asked: why?

            He showed both letters. She read them. She started to cry.

            During dinner it was the first time that they really talked and fell even more in love.

 

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Marcas eternas

Comecei mal, né?! Toda terça e hoje é quarta e nada de conto...


Desculpem, trabalho novo, correria!

 

Mas aí está, um conto mais denso...

 

Tema: TATUAGEM

Autora: Lê

Data: 17/04/2009

Título: Marcas eternas

 

 

            Ralf estava sentado em sua cadeira de balanço olhando o campo florido pela janela. Viu seus colegas da casa de repouso com seus netinhos correndo pelo gramado, aproveitando os últimos dias da primavera.

            Suspirou e tomou mais um gole de seu chá. Sentia saudades de sua família que ainda estava presa na Alemanha oriental. Sentiu-se sozinho.

            A enfermeira entrou lhe trazendo seus medicamentos.

            - Enfermeira, você poderia pedir que alguém me levasse lá fora? Gostaria de sentir as últimas brisas quentes do verão.

            - Tudo bem, aguarde um pouco que nossos enfermeiros estão em ronda também.

            - Tudo bem!

            Sentiu uma ponta de alegria interna, fazia duas semanas que não sentia as flores, que não passeava pelo jardim. Isso lhe deixava muito triste, porém sabia que não podia exigir que o levassem todos os dias para um passeio. Estava com 85Kg e a casa ainda não havia conseguido uma cadeira de rodas para ele.

            Logo chegaram ao seu quarto dois enfermeiros fortes.

            - Boa tarde senhor Ralf! Pronto para dar uma voltinha?

            - Muito! Vocês já colocaram a minha cadeira na varanda?

            - Sim!

            - Sem querer abusar da boa vontade de vocês, desta vez vocês poderiam me colocar embaixo daquela árvore ali, perto das flores e das crianças?

            - Podemos sim, aguarde só um pouco que já retorno.

            O mais velho dos dois correu arrumar a cadeira antes do transporte. O outro ficou lhe fazendo companhia. Ralf não o conhecia e percebeu seus olhos fixos na ausência de suas pernas.

            - Pode perguntar, você quer saber onde estão minhas pernas, certo?

            - Não, não, desculpe, erm...

            - Você é novo aqui, certo? Não te contaram as histórias? Cada um cria uma história a meu respeito, algumas extremamente fantasiosas como a que eu era um devorador de criançinhas nazista que foi vingado por um pai bravo.

            Ralf gargalhou e observou a expressão de susto do enfermeiro.

            - Não se preocupe, não é nada disso. Inventam essas coisas, pois eu nasci na Alemanha. Mas eu perdi as pernas ao tentar salvar meus filhos do campo de concentração. Consegui, perdi somente as pernas, mas sei que eles estão vivos e bem e isso vale mais do que mil pernas.

            Nisso o outro enfermeiro retornou

            - Tudo pronto, vamos?

            Os dois enfermeiros fizeram uma cadeira com os braços e carregaram o senhor até o lado de fora.

            - Sr Ralf, já sabe, quando quiser voltar para dentro basta levantar a mão q viremos lhe carregar!

            - Ok, muito obrigado rapazes!

            Ralf fechou os olhos, deitou a cabeça no encosto e sentiu a brisa lambendo-lhe a face, escutou os passarinhos ao longe, a água do riacho próximo correndo, as crianças rindo e percebeu que assim a saudade de seus filhos diminuía um pouco, sentia-se mais perto deles.

            Relembrou seu tempo na longínqua Alemanha, sua infância correndo pelos campos à caminho da escola, roubando maças do vizinho para o lanche... Deixou seu pensamento fluir e ir criando em sua cabeça toda a retrospectiva da sua vida até chegar às primeiras notícias da guerra. Tudo o que era colorido e alegre ficou preto, vermelho e perturbador. Abriu os olhos tomando ar, como se tivesse emergido de um poço. Olhou para o seu próprio pulso e viu algo que o marcava mais do que a ausência de suas pernas: a tatuagem. A marca por ter uma religião, por acreditar em Deus e na Paz. Haviam marcado seu código no primeiro dia no campo de concentração. Sabia por ter acompanhado outros tantos passando e recebendo as marcas. Mas não se lembra de nada das duas primeiras semanas de estada no campo. Lembra da dor da perda e do aprisionamento que eram maiores do que a dor da cicatrização das pernas. Sabia que com as tecnologias atuais poderia facilmente removê-la, mas não queria, sabia que simbolizava a sua vida, o seu “karma” o seu pesar e o motivo de ainda estar vivo. Pensava que apagando seria como jogar um lençol em cima de um prédio para tentar cobri-lo.

            Perde-se nos pensamentos olhando aqueles números, sonhando em como poderia fazer para encontrar seus filhos perdidos.

 

            Enquanto isso, os enfermeiros estavam parados na varanda observando as pessoas na varanda e no jardim, esperando que precisassem de seu auxilio. Quando o mais novo pergunta:

            - Qual a história desse seu Ralf?

            O outro olha bem para ele e pergunta:

            - Você tem certeza que quer se envolver na vida pessoal dos pacientes? Pode ser pesado.

            - Sim, estou aqui, morando aqui junto com eles, sinto que devo conhecê-los para assim ajudá-los melhor!

            - Muito bom garoto, você tem um bom futuro pela frente! Bem, vejamos, por onde começar...

            Contou toda a história, de onde veio, como perdeu as pernas salvando os filhos, da vida no campo de concentração, até seu resgate por soldados brasileiros que o trouxeram para cá.

            O mais novo decidiu então ajudar. Foram meses de pesquisa.

           

            No início da primavera seguinte o Sr Ralf novamente chamou os enfermeiros pois queria aproveitar os dias quentes se aproximando. Porém desta vez apareceu primeiramente Ágata, a responsável por seus cuidados pessoais. Sentiu um sorriso maior na simpática ajudante.

            - O que lhe faz tão feliz hoje?

            - Hoje é um dia especial para todos!

            - Por quê?

            - O senhor verá, venha, vamos tomar um banho, fazer sua barba e colocar uma roupa bonita!

            - Mas isso só acontece à noite, o que está acontecendo?

            - Apenas siga minhas instruções, já lhe falei que é um dia especial.

            - Tudo bem, tudo bem, gosto de surpresas!

            E pensou que deveria ser aniversário de algum de seus colegas ou até de um dos médicos. Era normal festas comemorativas, mas nunca levadas tão à sério.

            Após o banho e toda a sua higiene os dois enfermeiros o levaram para a árvore.

            Ele ficou lá, pensando que havia se passado mais um ano sem nenhuma visita, sem nenhum carinho conhecido, sem sequer uma carta! Mas como saberiam da sua localização? Havia sido obrigado a mudar de nome para poder se alojar com segurança. Enquanto deixava seus pensamentos em devaneio escutou passos. Virou-se e viu dois casais e 5 crianças se aproximando. Sua curiosidade se aguçou e ao chegarem mais perto reconheceu, mesmo com os 37 anos que haviam passado, os olhos de seus filhos. Imediatamente começou a chorar e eles correram para abraçá-lo.

            Todos os enfermeiros e habitantes da casa estavam na varando observando a emocionante visita.

            Interromperam o abraço e se olharam, um sorriso incontido naqueles dois homens e naquela mulher. Era sua garotinha, como havia crescido!! E seu filho então, havia se tornado um homem muito bonito!

            Neste momento os filhos viram a marca no pulso do pai. Viraram então seus pulsos e formaram um triângulo marcado.

            Lágrimas de tristeza e ódio correram. Havia sido em vão todo o seu esforço, estavam todos marcados.

            A filha logo percebeu e falou:

            - Não tenha ódio pai, estamos vivos e unidos. A mesma tatuagem que nos separou é o que nos une agora através da vontade e esforço de um de seus enfermeiros.

            Ralf sentiu um alívio e um sentimento de perdão percorrer seu corpo. Abraçaram-se novamente. O resto da família se aproximou, foram todos devidamente apresentados e sentaram-se à volta do Sr. Ralf e começaram a conversar, contar tudo o que havia acontecido nos últimos 37 anos, evitando o assunto guerra. Apenas amores e felicidade, pois depois de tudo que haviam passado, sabiam que apenas isso era importante na vida.

            Ralf virou-se para a varanda para agradecer seu anjo salvador e estavam todos com lágrimas nos olhos.

            - É por isso que eu amo a minha profissão. Falou o mais novo para seu colega enfermeiro.

 

 

terça-feira, 11 de agosto de 2009

"Platô"

Esse é um texto tragicômico... hehe

 

Eu e a Japa temos uma brincadeira, de gerar temas ou copiar do “duelodeescritores.blogspot.com” e escrevermos contos. Este é o segundo da brincadeira. Postarei um por semana. Toda terça-feira apareçam por aqui!!

 

Duelo Japa x Lê

Tema: Dor de barriga (tema dado pela Mô)

Autora: Lê

Data: 30/04/2009

 

Título: “Platô”

 

            A lua cheia brilhava no céu daquela noite de verão. Sua luz entrava pela janela entre-aberta do quarto de Katifunda. Era uma quente noite de verão, o ventilador não dava conta. Katifunda dormia apenas de camisola.

            Floriano atravessava a rua, olhou para o céu e admirou a lua. Olhou em volta e subiu no muro. Caminhou cuidadosamente por sobre ele até que chegou à janela entre-aberta. “Como é burra essa garota, é um perigo esse muro perto da janela e a janela aberta, se eu fosse mau-carater seria uma oportunidade perfeita!”. Mas ele não era. Sentou-se como todas as noites, retirou seu cigarro do bolso, sua garrafinha de wisky e mais uma vez olhou para a lua e agradeceu a claridade. Fazia algumas semanas que só chovia e ele não conseguia vê-la claramente.

            Sim, este era seu maior prazer, pecado e paixão: Observar Katifunda dormir.

            Katifunda começou a se remexer na cama. De um lado para o outro. Jogava a perna para fora, depois os braços. Por vezes Floriano quase invadiu o quarto para sergurá-la, quando ela estava quase caindo. Até que ela virou numa posição em que seu rosto finalmente iluminava-se  pela lua, sua pele alva, seu cabelo grudado na testa. “Epa, como assim cabelo grudado na testa?” pensou Floriano. Ela era a garota mais cheirosa e limpinha que ele conhecia. Observando melhor pôde ver suor escorrendo de sua face. “Tá quente pra cacete hoje merrrmo, mas não é pra tanto minha flor de jaboticaba...” Secretamente era assim que lhe chamava. Ela abre os olhos, senta na cama, coloca a mão sobre a barriga, respira fundo, acende a luz. Rapidamente Floriano locomove-se mais para o lado, fugindo da claridade vinda pela janela.  Ela toma um gole d’água e coloca a mão sobre a boca. Ele repara que ela está pálida. Ela corre até a janela, abre com violência, quase o acertando e coloca toda a sua janta para fora. Faz-se uma poça sob a janela, por sorte estavam no segundo andar. Ao terminar ela ainda solta uma bufa que faz Floriando quase desmaiar, perder os sentidos, queimando os pelos de seu nariz. Ela olha para o céu e arrepende-se de ter almoçado feijoada e jantado barreado, mas culpa o licor da sobremesa.

            Floriano está imóvel. Dividido entre o medo de ser avistado, o nojo da sua paixão e a tontura que lhe abateu pelo susto. Considerava-a uma santa, imaculada, não faria coisas assim.

            Katifunda apoiou-se no parapeito, suspirou e voltou a deitar. Floriano continuou imóvel. A luz apagou-se. Floriano levantou-se, caminhou sobre o muro vagarosamente e tomou o rumo de sua casa.

            No dia seguinte ele retornou com um envelope que apenas colocou por baixo da porta, apertou a campainha e caminhou em direção à esquina. Dentro dele:

 

            “Querida ex-flor de jaboticaba,

 

            Posso parecer um machista com as próximas palavras, mas me considero um cavalheiro sincero. Por dois anos, todas as noites, “faça chuva ou faça sol” eu vim à sua janela. Nutria por você uma paixão que me corroia (talvez o sereno com cigarro e bebida ajudassem). Porém, ontem a noite você tornou-se uma mulher real, quebrou o encanto e eu não mais poderei vir lhe visitar. Não se assuste, por favor, nunca lhe desejei o mal. E é por isso que estou contando rapidamente essa história, para lhe avisar que é muito fácil subir seu muro e se quisesse entraria no seu quarto também. É perigoso. Por favor, tome mais cuidado. E não vomite pela janela, é nojento e tome algum remédio para o seu intestino, seria capaz de atear fogo em uma casa caso acendesse um fósforo ao soltar seus gazes.

 

            Um abraço,

            F., seu admirador

 

            Katifunda gelou de medo e no mesmo dia contou para o seu pai que mandou colocar arame-farpado sobre o muro. Não contou para ninguém a última parte da carta, estava morrendo de vergonha, uma dama não poderia fazer algo assim, muito menos pela janela, mas o banheiro ficava no andar de baixo da casa. “Isso com certeza esse tal de “F.” metido não sabe!!”, pensava ela.

 

            Floriano ainda passava nas suas noites mais solitárias em frente à sua casa e sorria, sabia que ninguém mais a admiraria como ele admirou. O sorriso transformava-se em gargalhada quando chegava à esquina, pois imaginava o pobre coitado que teria que aguentá-la nos dias podres.

 

            Katifunda deixava sua janela aberta todas as noites, com a esperança de conhecer seu admirador secreto e poder esclarecer que não é uma porca.

 

            Pré-conceitos e arames farpados os impediram o resto da vida de se encontrarem.

 

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Por que, mãe?

Eu e a Japa temos uma brincadeira, de gerar temas ou copiar do “duelodeescritores.blogspot.com” e escrevermos contos. Este foi o primeiro da brincadeira. Postarei um por semana. Toda terça-feira apareçam por aqui!!

Duelo Japa x Lê

Tema: “Avião/Por que?”

Autora: Letícia

Título: Por que, mãe?

Abelardo olhava para fora da janela e tinha vontade de pular nas nuvens, pareciam tão fofinhas, lembravam sua cama com uma camada de algodão doce em cima.

- Mãe, por que as núvens são brancas?

- Porque é a água em vapor

- Por que a água evapora?

- Porque o sol bate no mar e nos rios, esquenta e faz a água evaporar e subir aqui

- E por que o sol esquenta assim?

- Porque ele é quente

- E quem fez o sol quente?

- Deus

Abelardo voltou à olhar a janela, Não entendia muitas coisas. Quem será esse Deus que cria tudo e sempre termina com a sua curiosidade? Já estava acostumado, não podia mais perguntar “por quês” depois que sua mãe respondesse Deus.

- Mãe, a senhora não sabe a resposta mais, né?! Por isso que responde “Deus”, né?

- Claro que não meu filho. Eu realmente acredito que Deus que criou tudo.

- E quem criou Deus?

- Ninguém.

- Como assim?

- Bê, isso eu não sei responder. Agora aperte o cinto que vamos começar a pousar.

Abelardo coloca o cinto de segurança

- Mãe, por que tem que colocar o cinto?

- Pra dar segurança

- Por que dar segurança?

- Porque se o avião sofrer qualquer impacto vc não é jogado pelo avião, fica seguro

- Por que ele pode sofrer impacto?

- Porque no pouso e na decolagem o avião ainda está muito rápido e tem que parar e entrar em contato com o solo

- Por que?

- Para podermos descer

- Por que?

- Pra chegarmos em casa e descansarmos.

Abelardo pensou que então colocar o cinto era pra chegar em casa bem, apertou ainda com mais força.

Dona Rosinha, mãe de Abelardo estava se cansando de tantos porquês. Já havia tratado com a psicopedagoga dele sobre o que estava acontecendo. Deveria ser uma fase aos 5/6 anos. Porém ele já estava com 10 e os “porques” não paravam! Ela havia lhe explicado que Abelardo era uma criança extremamente curiosa e inteligente. E que como nos grupos de trabalho na empresa de Rosinha e em qualquer outra discussão adulta, Abelardo após 5 “por ques” no máximo chegaria à chave, à resposta satisfatória. O que era um alívio, pelo menos havia fim.

- Senhores passageiros, aqui é capitão Souza, a diferença de temperatura entre o solo e atmosfera está muito elevada, portanto sofreremos turbulências fortes ao pousar. Não é comum, mas é normal, portanto, não se assustem. Obrigado.

- Mãe, o que é turbulência?

- É quando o avião fica chacoalhando

- Por que ele chacoalha?

- Porque há diferença de quantidade de ar e ele não consegue planar

- Por que?

- Porque falta sustentação

- Então eu não conseguiria respirar nesses lugares também?

- Acima de 4km você já não consegue respirar direito.

- Por que?

- Porque não tem ar suficiente e teu organismo sente falta

Enquanto respondia, Rosinha pensava que deveria ser a última pergunta. Ela tinha medo de pousos e principalmente de turbulências, não queria conversa nessa hora. Viu que seu filho abria a boca para continuar perguntando. Mas nesse momento houve um chacoalho muito grande e uma sensação de queda repentina, como uma montanha russa que durou alguns segundos. Quando estabilizou novamente estavam todos quietos, com os olhos arregalados. Novamente um chachoalho, para os lados, para baixo e a pista se aproximando.

Abelardo agarrou-se ao braço da mãe e ao braço da poltrona com a outra mão enquanto olhava para a janela. O avião balançando e a pista se aproximando. A pista se aprovimando, o avião balançando e um estrondo. O avião encostou na pista mas continuou instável, sua traseira balançando. Girou, foi de lado saindo da pista, atravessando o gramado, parando e reduzindo a velocidade muito lentamente. Parou no muro do aeroporto.

Dona Rosinha branca, em estado de choque. Abelardo olhando para fora procurando fogo ou algum sinal de seguro maior. Até que virou e olhou sua mãe em estado de choque.

- Mãe, mãe, por que você tá branca assim?

Não houve resposta

- Mãe, por que você tá olhando pra frente sem piscar?

Nada novamente

- Mãe? MÃE?!!!

Começou a balançar ela. Até que houve um suspiro e seus olhos piscaram. Ela retornou do desmaio.

- Por que a senhora tava sem se movimentar?

- Acho que desmaiei.

- Por que?

- Filho, certas horas não devem ter tantas perguntas. Vamos nos acalmar e descer do avião.

- Por que?

- AHHHHH Fica quieto só um pouco, Abelardo!!! Não tá vendo que a gente quase morreu e você aí querendo saber os por quês de tudo??? Dá um tempo moleque!!!

Abelardo começou a chorar.

- Mas mãe, eu coloquei o sinto, vamos chegar salvos em casa!

Nunca sua mãe havia gritado com ele, nunca tinha dito que não receberia suas perguntas. Olhou em volta e viu todo mundo correndo, chorando, nervoso, os bombeiros do lado de fora e percebeu que realmente não havia sido um passeio na montanha russa como ele tinha observado. Baixou a cabeça e ficou quieto. Estavam todos bem e ninguém machucado, para que tanta preocupação? Mas calou-se.

Saíram do avião pelo escorregador de emergência. Foram examinados, preencheram informações, fichas, dados, contaram 7 vezes a mesma história até que finalmente, 3 hrs depois, foram liberados. Abelardo se manteve em silêncio todo o período.

Ao chegarem em casa a mãe vai tomar banho e neste momento de relaxamento lembra do surto que teve com Abelardo.

Saiu do banho enxugando os cabelos, enrolada na toalha e encontrou Abelardo olhando pela janela de casa.

- O que está olhando, Bê?

- As nuvens.

- Por que?

- Porque me lembro do céu

- E o que mais?

- De quando você não era brava comigo.

Sentou-se ao seu lado

- Desculpe filho, eu realmente fiquei muito nervosa com o nosso quase aciente

- Foi Deus quem segurou a gente, mamãe?

- Foi sim meu filho

- Você se cansa das minhas perguntas de verdade?

- Às vezes sim. Mas por que estou egoísta e cansada. Porque sei que a sua curiosidade é que faz você querer saber o por que de tudo.

Rosinha foi até a sala e pegou seu “guia dos curiosos” e entregou a seu filho.

- Nossa, mãe, que livro grande!

- Aqui você vai encontrar muitas respostas. Para quando eu não estiver por aqui para respondê-las.

- E quando você estiver?

- Daí você pode perguntar pra mim mesmo.

- Posso fazer a última pergunta de hoje?

- Claro que pode filhinho!

- Por que eu não posso perguntar nada de Deus que você para de responder?

- Porque eu não sei bem quem é esse cara. Então pra mim é dificil explicar certas coisas. Eu só sei que ele está em tudo, que é o responsável por muitas coisas.

- Aqui vai me explicar isso?

- Não...

- Que pena.

- Mas vai explicar o resto sobre as coisas diferentes e curiosidades da vida.

- Obrigado, mãe! Prometo não fazer mais tantas perguntas.

- Obrigada, filho. Eu não sei mais tantas respostas, suas perguntas estão ficando mais profundas.

- É por que você já me explicou tudo o que sabia?

- Não, eu expliquei o que você queria saber que eu sabia.

- Por que você não lê esse livro e me responde?

- Não é fácil assim filho.

- Então eu não vou entender?

- Vai sim! Só que o teu cérebro tem muito mais espaço do que o meu.

- Mas se você não sabe mais, com o que está ocupado o teu cerébro? Você é burra?

- haha Não, meu filho! O que a gente aprende na vida não são só curiosidades. É também como viver, como cuidar das coisas, das pessoas, como criar e tratar você bem, a lidar com as dificuldades que enfrento, as coisas do trabalho, as informações do mundo, muito mais coisas do que essas dúvidas suas.

- Então eu sou burro?

- Não também, meu filho. Você é muito inteligente, só tem que ter um pouco mais de paciência para ir estudando e aprendendo as coisas aos poucos. Aprender a saber quando e o que perguntar para quem. Por exemplo, hoje, num momento de stress, você deve segurar um pouco a sua curiosidade, as pessoas estão envolvidas em muitas atividades então podem se irritar com a sua pergunta.

- Você tá me chamando de chato?

- Só estou te ensinando o que você não pergunta, sobre as pessoas. Nem todo mundo é como seus amigos, suas professoras, sua terapeuta e eu. Nem todo mundo gosta de responder perguntas. Só estou te explicando que você não deve ficar chateado se encontrar pessoas pelo caminho que não querem aprender mais e muito menos ensinar.

- Ah.

- Mas muitas pessoas vão perceber o quão especial, inteligente e esperto você é! E são essas pessoas que você deve levar com você, que deve manter perto e se tornar amigo.

- Não posso ser amigo de todo mundo?

- Não vai ser todo mundo que vai querer ser teu amigo e você não vai querer ser amigo de todo mundo.

- Você vai ser minha amiga sempre?

- Claro!!!

- Então já estou feliz!

- Vamos dormir agora?

Dona Rosinha sentiu sua fé renovada após o acidente e a maneira simples como o filho via tudo. Sentiu que era hora de voltar a estudar para acompanhar os porquês de seu filho e de retornar à Igreja, ou à algum lugar que lhe explicasse e lhe saciasse a curiosidade da alma. Sentiu-se esperançosa pelo futuro brilhante que seu filho teria e torceu para que não encontrasse muitas pessoas impaciêntes que cortassem essa vontade de querer mais e saber mais de seu filho. Seria um dom jogado fora. Percebeu que sua missão era cuidar para que ele nunca perdesse isso e fosse um adulto brilhante, capaz de aprender a ajudar muitas outras pessoas, quem sabe um cientista, ou um professor, ou um estudioso... Dormiu sonhando com as possibilidades para uma pessoa inteligente e curiosa que não fosse podada na infância, que não tivesse que se despreocupar dos estudos para poder ajudar na casa, como havia sido o caso dela que foi estudar muito tarde e já por obrigação e não gosto.

Primeiro Post

Olá!!

Resolvi criar um blog só para os meus contos.

Para as aleatoriedades vai continuar o aleatoriedadesdale.blogspot.com, mas como ando entrando nessa onda mais louca e histórica (haha), resolvi criar este!

E é isso... vou postar os já escritos!

Boa leitura!

Bjos