quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Na padaria

Eu me inspiro mais quando estou triste, numa fase ruim. Inclusive para escrever histórias bonitas, que dão esperança de um futuro melhor!

 

Embora eu tenha quase desistido de escrever e publicar meus contos e crônicas (tudo já foi escrito, pra que colocar a minha visão também se escreveram tão melhor do que eu??) hoje já me deu uma vontadinha e uma idéia!! Hehehe

 

Então, aí está! Inédito, fresquinho e marcando meu retorno (talvez)!!

 

A Padaria

 

            Andressa era uma garota muito agitada. Estava sempre correndo de um lado para o outro, procurando mais e mais trabalho, mais e mais atividades fora do trabalho para preencher todo o seu tempo, não gostava de ter tempo para pensar em si ou nas coisas do mundo, gostava de ter seu cérebro ocupado. Tinha medo do rumo que seus pensamentos poderiam tomar.

            Foi nesse estado, na fila da padaria, batendo o pé com a demora que ela reparou em Jorge olhando-a sem sequer piscar. Era uma dessas padarias modernas que possuem umas mesinhas para café numa área reservada. Ele estava sentado em uma delas, com um jornal sobre a mesa, tomando um café e perdido nos pensamentos observando-a.

            Andressa andou mais um passo e voltou a olhar foi nesse momento que ele reparou que a olhava fixamente, baixou os olhos e continuou lendo o jornal.

            A cada passo na fila, uma olhada e os olhos se encontrando, até que ela não resistiu e sorriu. Ele levantou-se e ela reparou a aliança em sua mão. No mesmo momento apagou o sorriso do rosto. “Não é justo! Em anos que não me interesso por alguém que se interessa por mim e agora o idiota é casado?!?!” Andressa pensou consigo mesma. Percebeu que ele caminhava em sua direção e antes que ele pudesse abrir a boca ela já falou, brava:

            - Quem você pensa que é? Com família em casa, essa aliança enorme na mão e me olhando e dando sorrisinhos?!?! Não tem respeito pela sua mulher não??? É por isso que o mundo não melhora, pois é repleto de canalhas como você!!!!

            - Não julgue o livro pela capa – Foi a resposta simples de Jorge que virou as costas, pegou o jornal de cima da mesa e caminhou até o caixa.

            Andressa ficou intrigada, o que ele queria dizer com isso?? Que ele não a estava olhando e ela fez papel de idiota? Ou que a aliança era uma ilusão de ótica?

            - Próximo!

            Era sua vez. Pediu seus 2 pães, as 50g presunto e 50g de queijo. Enquanto esperava continuou a pensar naquele encontro bizarro. Quando pegou os pacotes lembrou-se que matutar sobre uma pessoa que já se foi, que nada tinha de importante e que ela jamais saberá o que quis dizer não a levará a nada!

            Continuou sua correria normal até que se deitou de noite. Não conseguia dormir, via a luz da lua entrando pela janela, iluminando todo o seu quarto e seu corpo e pela primeira vez em muito tempo sentiu falta de uma mão quente, forte, abraçando-a, de uma respiração muito próxima, de uma companhia. Amaldiçoou o “cara da padaria” que havia despertado estes desejos, estas lembranças nela.

            No dia seguinte na mesma fila da mesma padaria se pegou olhando para as mesinhas a procura de Jorge. Se odiou por isso, lembrou-se da maldita aliança! Abaixou seus olhos e só levantou para pedir, pegar e pagar.

            Porém, todos sabem que olhando para o chão a sua visão fica “levemente” prejudicada. Portanto, ao sair da padaria, Andressa bateu de frente com uma pessoa, Jorge. Sim! Como em qualquer filme romântico, os acasos sempre acontecem e podem acontecer na vida real também.

            Ela levantou os olhos viu que era ele, pediu desculpas e continuou andando.

            Ele segurou-a pelo braço. Ela virou-se olhou para o braço, olhou para ele:

            - Você quer fazer o favor de não encostar em mim? – quando na verdade queria dizer para ele chegar ainda mais perto, pois aquele toque havia feito uma onda de energia percorrer o seu corpo.

            - Desculpe. É que eu fiquei pensando desde ontem que não deveria desistir das coisas tão fácil.

            - Já falei que não adianta, respeito a sua mulher e sou boa de mais para ser amante de alguém!! – Tinha que manter a linha, brava e durona.

            - Haha, calma, podemos tomar um café ali e eu te explico tudo?

            - O que há para explicar???

            - Muitas coisas... – e a soltou

            Ela olhou para o seu carro, olhou para dentro, para o rosto dele, para suas mãos. Pensou por 3 segundos que pareceram 3 horas e começou a caminhar em direção ao interior da padaria.

            - Sabia que você não era tão metida quanto parece.

            - Me chamou para me xingar? Vou embora!

            - Calma, calma! Você é sempre assim, tão irritada, nervosa e bravinha?

            - Sim, sempre.

            - Ok, desculpe.

            - Então, conte logo, explique rapidamente, não tenho muito tempo a perder.

            - Que garota difícil você, hein!

            - Strike 2. No próximo levanto e vou embora. De verdade!

            - Você não faria isso, está curiosa demais, senão, sequer teria entrado!

            - hahaha – Andressa cedeu, relaxou, percebeu que suas máscaras tinham caído, ou talvez nunca tivessem funcionado com ele. Mas como podia isso se ela sequer o conhecia?

            - Que sorriso lindo!

            - Que cantada barata.

            - Ok, chega desses ataques, eu te convidei para entrar para lhe explicar sobre a aliança, certo?

            - Certo.

            - É uma longa história...

            - Então resuma, como já disse, não tenho muito tempo.

            - Bom, resumidamente, esta aliança era de meu irmão. Ele morreu em um acidente de carro há 3 anos. Na época eu estava brigado com ele, pois não aceitava seu noivado com a sua namorada, achava que ela não estava à altura dele. Eu ainda consegui encontrá-lo para as últimas palavras na UTI e ele falou para eu ficar com a sua aliança para que nunca se esquecesse dele e de amar, sem importar quem e como! Sim, eu era como você, bravinho, distante de relacionamentos, tratava as mulheres como objetos de minha felicidade carnal, somente isso. Ele era um cara extremamente romântico e feliz com isso. Eu no fundo sempre tive inveja. Então, agora, na proximidade do dia dos namorados eu resolvi usar a aliança, para fortalecer esse pensamento em mim. Desculpe se passei a imagem errada para você.

            - Que história maluca, não sei se acredito não...

            - Além de bravinha é cética, é?! Hahaha – Tirou a aliança e mostrou os nomes, tirou também sua carteira do bolso e mostrou seu documento. Na aliança dizia “José e Ana” e em seu documento: Jorge.

            Andressa estendeu a mão para cumprimentá-lo

            - Muito prazer, Andressa.

            Foi assim que ela foi domada e ele encontrou o amor. Quando acontece, não existe capa que impeça você de ler o livro.

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